Por Igor Thawen
No dia 29 de julho de 2022, Beyoncé nos apresentava o primeiro ato do Renaissance, o sétimo álbum de estúdio da estadunidense. Dez meses depois, no dia 10 de maio, a cantora estreou a turnê de divulgação do disco, em Estocolmo, na Suécia.
A turnê surge com uma estética futurista, mesclando um grande telão com robôs e muito carão. O espetáculo ainda traz referências à cultura ballroom, uma subcultura LGBTQ+ underground afro-americana e latina que se originou na cidade de Nova York, que está representada por figurinos, vídeos e coreografias de voguing. O balé, inclusive, foi todo reformulado e na sua composição têm pessoas da comunidade, majoritariamente, e com ícones do voguing, como Honey Balenciaga, componente da House of Balenciaga, da segunda temporada do reality queer Legendary.
Poucos sabem, mas a obra musical lançada por Beyoncé, o álbum Renaissance, é uma homenagem ao tio materno, Johnny Knowles, um homem gay que morreu por complicações do HIV quando a artista ainda era adolescente. “Ele foi minha madrinha e a primeira pessoa a me expor a muitas das músicas e cultura que servem de inspiração para esse álbum”, declarou a cantora no encarte do disco.
Mas não é a primeira vez que Beyoncé se refere ao tio e reconhece a sua força. Em 2019, quando foi homenageada no GLAAD Awards, ela expôs: “Ele foi o homem gay mais fabuloso que eu já conheci, e ajudou a criar eu e minha irmã. Ele viveu sua verdade, foi corajoso e destemido numa época em que esse país não era tão receptivo”.
Para entender melhor, nas primeiras batidas de “BREAK MY SOUL”, primeira música divulgada do disco, Beyoncé explica que o Renaissance também é dedicado a todos os pioneiros que originaram a cultura, aos “anjos caídos”, cuja as contribuições não têm sido reconhecidas por muito tempo, fazendo, claramente, uma referência aos artistas pretos e LGBTQIA+ que criaram a cultura Ballroom.
É inevitável a ligação da cultura com a apresentação da mesma através da série POSE. O mainstream, da sua forma, evidenciou o que hoje conhecemos. O show, por sua vez, leva entonações que claramente faz-se ligações com a série. Mas não só por isso. Antes de começar o show, o telão da turnê exibe uma barra de cores inteligentes, como visto em fitas VHS, mas dessa vez, formada por tons da versão atualizada da bandeira LGBTQIA+. Essa simbologia é descrita na letra de “COZY”.
A apresentação da música “BREAK MY SOUL” inclui a versão do Queens Remix, com participação de Madonna e o sample de “VOGUE”, lançado em 1990 e responsável por apresentar o voguing ao mundo pop. No ato, Beyoncé é chamada de “Mãe da Casa Renaissance”, desfilando e servindo muito close.
“10s, 10s, 10s across the board!”
Os leques, as placas, os globos metálicos, imagens de bailes e um corredor repleto de bailarinos fazendo improvisações por meio da batalha de vogue, como nos bailes, alegra o show e alavanca uma cultura tão necessária na comunidade LGBTQIA+.
Em vários momentos, a voz de Kevin JZ Prodigy – ícone da cultura e responsável por narrar bailes, é conectada ao show. Vale lembrar que ele também aparece em “PURE/HONEY”.
Estruturalmente, o evento apresenta banheiros de gênero neutro para o público do show. Esse movimento impacta, pois em alguns estados, como Flórida, têm sido aprovadas leis anti-LGBTQIA+, especificamente em combate ao uso de banheiros deste tipo. A turnê passará por lá no dia 16 de agosto, trazendo um embate entre Beyoncé e o governador conservador Ron DeSantis.
Ao fim do show, Beyoncé deixa uma foto do seu tio, Johnny Knowles e sua mãe, Tina Knowles, para todos observarem enquanto se despedem da obra. Certamente, essa é uma das maiores homenagens feitas à LGBTQIA+ por um artista.
Por fim, vivemos na esperança da Renaissance passar pelo Brasil e trazer essa fatia colorida e deliciosa da cultura LGBTQIA+ afro-americana. Já prepararam os leques?
