74% das pessoas LGBTI+ da América Latina sofreram violações no trabalho

Estudo descreve o assédio, a violência e a discriminação em função da orientação sexual e da identidade de gênero no âmbito laboral na América Latina

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Foto: Reprodução
Por Rafael Mesquita

A primeira pesquisa latino americana sobre diversidade sexual, assédio, violência e discriminação no âmbito de trabalho revela que 74% das pessoas LGBTI+ vivenciaram, pelo menos uma vez, nos últimos 12 meses, algum tipo de violência simbólica, violência institucional, violência sexual, assédio ou violência física​.

A amostra do levantamento contou com 1.584 participações, realizadas de forma online e ouviu residentes na América Latina com trabalho no último ano.

Embora mais de 70% sinalize ao longo do questionário a vivência destas violações, somente ​37,2% reconhece ter experimentado alguma destas situações ​devido à sua orientação sexual e/ou identidade de gênero.

Esse dado é atribuído pela Nodos, da Argentina, a uma “naturalização da violência”, que a entidade acredita ser “algo que devemos combater e focar com maior ênfase”.

Além da entidade argentina, outras organizações regionais – Integra Diversidade, do Brasil, Sentiido, da Colômbia, Nodos do México, e MSN Consultorías, do Uruguai – construíram coletivamente este estudo.

O trabalho contou com o apoio do Escritório Regional da América Latina e Caribe do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) e foi acompanhado por outras 35 organizações de toda a região, como a brasileira Aliança Nacional LGBTI.

De acordo com a Integra Diversidade, a pesquisa surgiu da necessidade de “​saber como se sentem e são tratadas as personas LGBTI+ nos seus lugares de trabalho em cada país da América Latina, assim como é necessário analisar os dados desde uma perspectiva regional”.

Gráfico: Divulgação

Brasil

Os dados do Brasil mostram uma alta incidência de violências contra LGBTI+ experimentadas nos lugares de trabalho, com 71,5% das pessoas respondentes.

Já entre as pessoas que associam a violência sofrida à orientação sexual ou identidade de gênero, o Brasil tem o segundo maior número, 44%, atrás somente da América Central e Caribe, com 53,3%.

Quem são os responsáveis pelas violências?

O estudo aponta também que as principais pessoas responsáveis de tais situações são: pares da mesma equipe (33%) e chefes/as (23,8%)​.

Além disso, foi registrado que estas violências são exercidas tanto por homens como por mulheres.

Maioria não denuncia

Das pessoas que sofreram algum ato de violência, 86,3% não realizou a denúncia. Quando as origens são indagadas, evidenciam-se três causas:

  • porque a pessoa não considerou relevante efetuar a denúncia;
  • porque não há confiança no mecanismo que a organização dispõe para realizar a denúncia;
  • ou por temor a represálias ou consequências negativas que as pessoas denunciantes pudessem receber.

Da mesma maneira, os canais de denúncia devem mostrar melhorias na sua efetividade, já que a esmagadora maioria, 86,3% de quem sofreu algum tipo de violência ou agressão, não prestou denúncia e, quando a realizou, em 65,9% das ocasiões não houve resultados.

Políticas de inclusão executadas

Muitas organizações estariam trabalhando em políticas de inclusão e diversidade com foco na população LGTBI+. 35% das pessoas respondentes declararam que seus espaços laborais contam com políticas ou programas sobre esta temática, mas só 25% se sente representado pelas mesmas.

Impactos da COVID-19

A pandemia da COVID-19 também trouxe desafios adicionais em matéria de estigma e discriminação. 32,2% dos participantes do levantamento acredita que, devido à orientação sexual e/ou identidade de gênero, é mais fácil que alguns dos seus direitos trabalhistas sejam violados durante a crise sanitária.

Levantar para enfrentar

Segundo Toni Reis, presidente da Aliança Nacional LGBTI+, a pesquisa demonstra que será um necessário um forte trabalho junto às empresas, de forma a reverter esse cenário cruel. “É preciso sensibilizar para que as pessoas LGBTI+ sejam respeitadas assim como qualquer outra”, destaca.

A Unaids, por sua vez, afirma que “​a informação e as descobertas obtidas deste esforço coletivo, contribuirão para gerar recomendações chave que auxiliem na diminuição do estigma e da discriminação da população LGTBIQ+ no ambiente laboral na região da América Latina​” ​e “​ reconhece este esforço e seus insumos ajudarão melhorar as condições laborais das populações em maior situação de vulnerabilidade, sem deixar ninguém para trás​”.

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