Travesti não é ofensa e nem piada, Bruno e Marrone

Sertanejos dão declarações transfóbicas durante live do cantor Gusttavo Lima

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Imagem: Reprodução da transmissão ao vivo dos cantores.
Por Alí Nacif
Edição: Rafael Mesquita

Na noite da última sexta-feira, 04 de dezembro, o cantor Gusttavo Lima organizou uma live em seu canal no YouTube e contou com a participação de Bruno e Marrone. Durante a transmissão, a dupla resolveu dar conselhos amorosos para Gusttavo e acabou falando demais.

Quando Marrone decidiu aconselhar o anfitrião, Bruno se meteu e disse que o parceiro não tinha moral para falar do assunto e sugeriu que ele assumisse a verdadeira sexualidade. “Marrone, você não pode falar de casamento porque você é um péssimo exemplo de casamento”, disparou ele.

“Você tem que casar logo com um travesti”, disse Bruno. Irritado, Marrone piora a situação e sugere que ele se vestisse como uma mulher. “Cadê ele? Cadê ele? Veste uma saia então você aí”, falou em resposta, utilizando o gênero masculino para se referir às travestis, uma identidade eminentemente feminina. Lima ri da cena grotesca, sendo incapaz de interromper o ato preconceituoso em sua live.

A cena, evidentemente transfóbica, evidencia que os artistas encaram a travestilidade a partir de dois pilares: como ofensa, que pode ser dirigida contra sujeitos heterossexuais, e como piada.

Todo esse show de horrores mostra que mais uma vez o núcleo sertanejo continua propagando a abjeção contra as pessoas transgênero. E não, não mesmo, ser uma travesti não é apenas vestir uma saia. Ninguém escolhe sofrer por ser o que é. Ser travesti é ter que todos os dias passar por diversas violências, é lidar com o medo da morte, com uma expectativa de vida de pouco mais de 30 anos. E isso não é nada engraçado.

Nestas horas, nos perguntamos: Por que eles não mudam? E a resposta é simples: eles estão no topo e não sofrem preconceitos e pelo que parece não têm medo de falar as atrocidades que falam porque eles sabem bem que a crítica não dura mais de duas semanas, não perdem contratos, nem sofrem o famoso cancelamento.

Embora transfobia e homofobia sejam crimes no Brasil desde a decisão de junho de 2019 do Supremo Tribunal Federal (STF), as autoridades públicas fazem vistas grossas para a aplicação de medidas contra atos preconceituosos dirigidos às pessoas LGBTI+.

Para que algo seja modificado, é preciso que nós, pessoas transgênero, nos mobilizamos ainda mais. Parte dessa mobilização é escrever esse texto. É denunciar uma classe artística provinciana, patriarcal, machista, misógina, conservadora e irresponsável, que usa uma grande plataforma, que é audiência que possuem, para desferir ódio e abjeção contra nós. Bora raquear esse sertanejo, karáleo! Bora botar mais pessoas trans nestes espaços. Somos multidões, precisamos fazer a nossa voz ser ouvida e nossa existência ser respeitada! E esses sertanejos reaça? Que se lasquem!

1 COMENTÁRIO

  1. Além da falta de respeito é fácil fazer deboche quando não ele que está sentindo na pele toda violência que sentimos, faz deboche né Marrone e depois sai passando o rodo nas travestis.

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