Roberta Close: a beleza que rompeu barreiras e inspirou a luta transgênero

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Roberta Close – Imagem: Reprodução/Instagram Roberta

Por Igor Thawen

Roberta Gambine Moreira, conhecida popularmente como Roberta Close, é uma atriz e modelo nascida no Rio de Janeiro em 7 de dezembro de 1964. Ela fez o Brasil estremecer com a sua beleza na década de 1980, época em que ainda se falava pouco sobre a transexualidade. Hoje, já não tão presente nas telas, Roberta continua a ser um exemplo vivo para tantas meninas trans que estão se afirmando.

A trajetória de Roberta no showbiz começa aos 16 anos, quando começou a desfilar, iniciando a sua carreira como modelo. Na mesma época, ela conta que estava em uma rua em Copacabana, quando foi parada por Guilherme Araújo e Caetano Veloso. Guilherme convidou Roberta para conhecer a agência em que ele era diretor na época. Anos depois, Close desfilou para grifes internacionais, como a Thierry Mugler, fazendo história como um dos primeiros corpos trans a ocupar este espaço e destaque.

A curiosidade em torno da sua transgeneridade a tornou presença constante em programas populares das mais diversas emissoras de TV brasileiras. Foi entrevistada por Faustão, Silvio Santos, Marília Gabriela, Gugu, Otávio Mesquita, Hebe, Chacrinha e Xuxa, por exemplo.

Nas revistas, Roberta também foi figurinha carimbada, aparecendo em capas da Close – que fez a atriz ser reconhecida e passou a compor o seu nome artístico -, Manchete, Playboy, Fatos e Fotos, Ele&Ela, Suigeneris, Sétimo Céu e Sexy, sendo a primeira mulher trans com esse feito.

Revistas com Roberta Close nas capas – Imagem: Reprodução/Revistas

Esses meios, populares na época do impresso e da hegemonia da televisão, alavancaram a sua carreira. Mas teve um alto custo emocional. Em muitos dos casos, Roberta era colocada no lugar de extraordinário, chacota, motivo de questionamento e até de preconceito direto. Sua figura, mesmo sem a presença física, era recorrentemente nominada em piadas e outras tiradas com o propósito de ridicularizar. Em um dos episódios transfóbicos sofridos, capa do jornal “Notícias Populares” estampava: “Mulher mais bonita do Brasil é homem”, em uma clara violação de sua identidade de gênero.

Manchete do jornal “Notícias Populares” – Imagem: Reprodução/Jornal

Apenas em 1989, após um extenso acompanhamento de dez anos com psiquiatras e psicólogos, Roberta fez a cirurgia de redesignação sexual, em Londres. Após o procedimento, em março de 1990, ela estampou a revista de nu feminino Playboy.

Outro problema na época era o registo civil. Ainda que manifestasse a identidade feminina e até tenha se submetido a procedimentos cirúrgicos, não conseguia a retificação de seu documento de identidade. “A história dos documentos foi bem complicada, pois eles diziam que eu era uma propriedade do Estado. Mesmo vivendo em uma democracia, eu não era livre”, afirmou a modelo no programa Altas Horas.

Roberta no “Altas Horas” – Imagem: Reprodução/Instagram Roberta

O registro como Roberta Gambine Moreira, no Brasil, aconteceu somente em 2005. Três anos após a capa da PlayBoy, em 1993, Roberta se mudou para Zurique, na Suíça, onde vive até hoje com o seu esposo, Roland Granacher.

Fez história

Roberta quebrou padrões, abriu portas e pautou a transexualidade em uma época onde não se entendia ou se avança em direitos LGBTQIA+. O que se é necessário entender, também, é que ela só queria modelar e atuar, mas, por tantas vezes, sua arte foi menor que a curiosidade, recheada de preconceitos, que encabeçava as entrevistas. Isso lembra, de forma direta, o que a deputada federal Erika Hilton disse no podcast “Desce a Letra Show”: “Eu só existo, eu sou eu. Pro outro eu sou trans, pro outro eu sou negra, pro outro eu sou”. Roberta e Erika, como tantas outras, só desejam o direito de existir. Prerrogativas essas que tantas vezes são roubadas.

De forma elegante e educada, Roberta sempre conseguia se sair e responder os questionamentos. Sobre hoje, ela acredita que o país avançou nas leis. “Eu acho que nesse ponto o Brasil evoluiu, nós evoluímos nas leis, nas formas de tratar as pessoas com dignidade e respeito. Isso me deixa muito contente!”, completou a atriz.

“Dá um close nela!”

Como tantas pessoas, Erasmo Carlos enxergou a musa que a Roberta é. Por isso, lançou a música “Close”, em homenagem à modelo. Na época, inclusive, se plantou uma fake news sobre o romance entre Roberta e Erasmo, mesmo ambos negando.

Com a sua arte, Roberta Close nos permitiu enxerga-la como ela é. Com suas entrevistas, aprendemos e entendemos a luta de uma mulher trans da década de 80. Com o presente, lutamos e vibramos para que tantas outras mulheres trans e travestis vivam de forma plena, em uma família e ciente da pele que habitam. Não muito longe, ela foi referência de beleza. Hoje, além de bela, ela é referência de luta.

Para acompanhar a Roberta, ela utiliza o Instagram, única rede social alimentada oficialmente pela artista.

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