O encanto das Pomba-Giras e a identificação com as pessoas LGBTI+

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Foto: Annaclarice Almeida / Reprodução
Por Fábio Mendes, colunista Mídia Queer

Retorno com os trabalhos trazendo uma questão que, de certa forma, tenta explicar a relação de interesse e acolhimento de LGBTI+ em casas de Umbanda e Candomblé, sobretudo de mulheres Travestis e Transexuais. Ressalto que o tema pode ser divergente de outras opiniões, o que não deixa de contribuir para um bom debate.

Figuras simbólicas no campo das religiões de matrizes africanas, as Pomba-Giras atraem o interesse de um público diversificado. A Pombo-Gira ou Pomba-Gira é um Exú feminino. Entre as mais famosas pomba-giras estão a Maria Mulambo, Maria Padilha, Cigana e Sete Sais. Elas são cultuadas no Candomblé e na Umbanda, onde ocorre uma identificação intensa, sobretudo entre as frequentadoras destas casas.

De forma deturpada associam a figura dos Exús ao diabo e como a cultura machista não escapa às questões religiosas, a pomba-gira também é vista de forma preconceituosa ao ser caracterizada de forma depreciativa, geralmente, como uma “mulher da rua”, uma “prostituta”. Pode ocorrer que alguma delas, em encarnação passada, tenham sido uma prostituta, mas não cabe generalizar.

Considero as pomba-giras guardiãs de muito conhecimento, sobretudo porque agem diretamente nas questões relacionadas à sexualidade, considerada por muitos uma das maiores fraquezas de pessoas encarnadas e desencarnadas.

As pessoas que recorrem às pombo-giras, geralmente encontram-se com problemas relacionados à vida sexual, relacionamentos afetivos e/ou vícios decorrentes dessa “fraqueza”.

Quem nunca se encantou ao presenciar as manifestações de uma pomba-gira no terreiro? Sua beleza, alegria e energia envolvem até os mais retraídos e suas gargalhadas descarregam e eliminam toda a negatividade do ambiente, equilibrando as energias para a vida.

É muito oportuno reconhecer a função das pomba-giras guardiãs no campo da espiritualidade e, sobretudo, reconhecer o papel insurgente e transgressor dessas mulheres. Podemos perceber semelhança nas mulheres travestis e transexuais, principais alvos das violências na sociedade.

Vimos no texto anterior que as religiões de matrizes africanas são expressões contra-hegemônicas e, como tal, não podem se refutar a abrigar uma das grandes lutas que a humanidade trava ao longo dos anos que é o preconceito contra pessoas LGBTI+.

As casas de Umbanda que compreendem essa identificação e acolhem mulheres Travestis e Transexuais estão contribuindo significativamente para o fortalecimento dessa luta. Advirto, novamente, sobre as contradições que permeiam as religiões de matrizes africanas e as interferências culturais que sofrem os cultos de ordem sexista e machista, mas, como afirmei no meu último escrito para o Mídia Queer, as casas de Umbanda e Candomblé ainda são abrigos para essa diversidade.

As mulheres travestis e transexuais que identificam-se com as figuras das pombo-giras, que são acolhidas de forma espontânea e livre de qualquer preconceito nessas casas, são fortalecidas para expressar sua força e existência nessa sociedade que tanto as maltrata e as expropriam em sua dignidade.

Muito Axé para todes e até breve.

Fábio Mendes: Manuel Fábio Mendes Pereira, Pedagogo, Educador Social e técnico em trabalhos com público jovem com as temáticas Direitos Humanos, Divesidade Sexual e Diversidade Cultural. É Diretor Presidente do Instituto Social para o Desenvolvimento de Potencialidades.

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