Mães pela Diversidade: “A mão e o punho”

Estreando coluna no Mídia Queer, o Coletivo Mães pela Diversidade do Ceará reforça a necessidade de luta, mas também de diálogo, um convite à percepção da diferença e o que há de maravilhoso em torno dela

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Integrantes do Mães Pela Diversidade Ceará na Biblioteca Pública Municipal de Fortaleza durante evento em alusão ao dia Nacional de visibilidade de Travestis e Transexuais (Foto: Reprodução/Instagram)
Por Mães pela Diversidade do Ceará, colunistas Mídia Queer
´Pra que tanta letrinha? L, G, B, T, Xiii…já me perdi! Esse povo não podia simplificar as coisas não?´ Este é o texto de uma pessoa que já se pegou pensando exatamente desse jeito. Começo pela confissão, como quem já apresenta, de cara, o seu lado mais feio, e convido você a percorrer o que se seguirá comigo. Mas não se enganem, não busco aqui absolvição. Esse julgamento já ocorreu (tenho pra mim que, na verdade, não cessa) e, cá dentro de mim, lido com as sanções devidas diariamente. A intenção aqui é outra.
O tempo em que vivemos tem a aparência de uma encruzilhada, cujo destino ainda parece incerto. Olhamos para um lado e vemos o furor de modos de ser, estar e existir cada vez mais pulsantes e vibrantes no mundo. Olhos brilhantes, corpos desejando e se deixando desejar. Sem vergonha, sem culpa, sem medo. E com medo também. É que do outro lado, há um pedaço de corpos amordaçados, cujo desejo não se atreve nem mesmo a colocar o dedo do pé fora da urna em que seus espíritos estão depositados. Como conceber tanta exuberância, tanta alegria, tanto amor, tanto tesão, circulando livremente por aí? ´Perigosos´, bradam eles!
Há algo, entretanto, que nos passa despercebido em meio à peleja de nos manter inteiros. Entre um lado e outro, ainda existe a curva. E, se há os cruéis, os maledicentes, os horrorosos, há também aqueles minimamente disponíveis a nos escutar. Muitas vezes, envergonhadamente curiosos por resvalar, pelo menos, na superfície desse arco-íris que teima em aparecer. Não arrogo inocência a quem quer que seja. Arrogo, sim, inteligência e sensibilidade de nossa parte para contar as nossas histórias cada vez mais e melhor.
Não espero que os alvos diretos de destrato e deboche sejam também responsáveis por traduzir quem quer que seja. De modo algum. Penso que esse pode ser um papel desempenhado por quem os rodeia, por quem caminha ao lado deles. E é este o motivo deste texto. Um texto convite a toda pessoa que ama alguma lésbica, gay, bissexual, travesti, transgênere, queer, intersexo, assexual, ou mais…mil vezes mais. Em muitas vezes erraremos, perdendo tempo com um daqueles que não valem a pena, a atenção e a palavra. Em muitas outras, acertaremos em cheio ao despertar o olhar de alguém para algo que séculos de opressão o ensinaram a evitar. O papel de familiares e amigos de pessoas LGBTQIA+ é esse: possibilitar, estabelecer, facilitar diálogos.
Em uma mão, o punho cerrado, pronto a combater qualquer tentativa de impedir a existência de nosses filhes, filhas e filhos. Na outra, palma e dedos estendidos, num convite a essa permissão de si para si, a essa escolha por provar o gosto da própria essência. Precisamos mostrar que não há perigo algum do lado de cá, precisamos contar nossas histórias. Amor, quando se mistura a empenho, produz uma substância muito potente e é esse o combustível da nossa caminhada ao lado de nosses menines. Sou, hoje, uma MÃE PELA DIVERSIDADE, e seguirei buscando construir as pontes que nos dizem impossíveis de se erguer. Não são. Vamos juntes?!

 

Mães pela Diversidade do Ceará: Agrupamento local do coletivo que tem como pilares a independência, laicidade e o suprapartidarismo. Nasceu em São Paulo, em 2014, fruto de um encontro espontâneo de mães e pais de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais de todo o Brasil, preocupados com o avanço do fundamentalismo religioso, a insegurança jurídica, o preconceito e a violência contra a população LGBTQI+.

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