Por Igor Thawen, especial para o Mídia Queer
A escritora J.K. Rowling, conhecida mundialmente por ser a autora da saga “Harry Potter”, vem chamando a atenção por conta dos seus posicionamentos transfóbicos na internet. E agora, mais uma vez, Rowling se envolve em uma controvérsia ao lançar, nesta terça-feira (15), seu novo livro “Troubled Blood” (“Sangue Perturbador”). A obra traz a história de um serial killer que se veste de mulher para cometer crimes contra mulheres.
Após o enredo ser revelado, apareceram diversas críticas, sobretudo de membros da comunidade LGBTQI+, por conta da representação negativa dada às pessoas travestis e trans, tendo em vista que a personagem masculina que quebra os paradigmas do gênero é, ao mesmo tempo, um assassino cruel.
Para ativistas dos direitos trans, fica implícita a intenção da autora de associar o travestimento ao espírito assassino da personagem.
O tablóide britânico The Telegraph afirma que o romance de 900 páginas de J.K. Roeling é uma investigação sobre o desaparecimento de uma mulher em 1974, supostamente vítima de um “homicida em série” que usava vestimentas tidas como femininas.
“Troubled Blood” é a quinta edição da série Cormoran Srike, escrita por Rowling. A segunda edição já havia sido criticada por representar uma personagem trans como uma pessoa “instável e agressiva”.
A jornalista e transativista Katelyn Burns reviu a obra e declarou que: “É um verdadeiro insulto às mulheres trans, de que seriam agressivas e incapazes de superar sua natureza masculina agressiva, sem falar que são colocadas como vilãs. E isso tudo vindo de uma autora cis que tem zero ou pouquíssimo conhecimento sobre vivências trans”.
J.K. Rowling transfóbica
A primeira abordagem da escritora sobre gênero aconteceu em 2019, na sua conta do Twitter, quando ela expressou apoio à pesquisadora Maya Forstater, que havia sido demitida do seu cargo no Centro de Desenvolvimento Global. Forstater criticou um projeto do governo britânico que facilitava, legalmente, a redesignação sexual de pessoas transgênero. “Vista-se como quiser. Chame a si mesmo do que quiser. Durma com qualquer adulto que consinta você. Viva sua melhor vida em paz e segurança. Mas forçar as mulheres a deixarem seus empregos por afirmarem que sexo é real? Eu apoio Maya”, defendeu Rowling, em posição que contraria os consensos atuais da medicina e prega um naturalismo negado também pelos estudos contemporâneos da sociedade.
Já nesse ano, em 6 de junho, ela voltou a usar o Twitter para opinar sobre o artigo Creating a more equal post-COVID-19 world for people who menstruate (“Criando um mundo pós-COVID-19 mais igual para as pessoas que menstruam”). Em tom de ironia, ela publicou: “‘Pessoas que menstruam.’ Eu tenho certeza que costumava existir uma palavra para essas pessoas. Alguém me ajude. Wumben? Wimpund? Woomud?” Na verdade, ela estava se referindo à palavra “womem”, mulheres, em inglês.
A autora, que soma quase 15 milhões de seguidores na rede social, manteve o raciocínio e completou: “Se o sexo não é real, a realidade vivida das mulheres em todo o mundo é apagada. Conheço e amo pessoas trans, mas apagar o conceito de sexo remove a capacidade de muitos discutirem significativamente suas vidas”. Todas essas abordagens geraram críticas severas de fãs, especialistas e ativistas do movimento LGBTQI+.
O ator que interpretou Harry Portter, Daniel Radcliffe, se posicionou escrevendo uma carta aberta aos fãs da franquia, publicada no diste da associação LGTB The Trevor Project. “Qualquer declaração contrária apaga a identidade e a dignidade das pessoas trans e vai contra todos os conselhos dados por associações profissionais de saúde que têm muito mais experiência nesse assunto do que Jo ou eu.”, declarou o protagonista, que também afirma, na mesma carta, que mulheres trans são mulheres.
Mesmo com o incessante debate na internet sobre o assunto, onde fãs, especialistas e ativistas buscam informar e esclarecer sobre gênero, para Rowling mulheres transexuais não são mulheres.
Para ex-fãs, o sentimento é de total frustração com a autora, que se mostrou uma vilã maior que as suas personagens.
Desde segunda (14), a hashtag #RIPJKRowling é uma tendência no Twitter.