Nos caminhos e descaminhos de novembras negras

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Por Silvia Maria Vieira dos Santos, colunista Mídia Queer

Era sexta-feira, 20 de novembro, depois de uma intensa semana cheia de atividades, palestras, lives, webinares, rodas de conversa, colóquios… Meu corpo estava dolorido de ficar em frente ao computador teimando com as pessoas de que infelizmente o racismo estrutural é um projeto que deu certo no Brasil.

Eu digo teimando porque todo novembro é assim, muitas atividades onde damos nomes as estatísticas da desigualdade racial em todos os âmbitos de nossa sociedade. E no resto do ano? Porque novembro é o mês dos pretos já que zumbi é assassinado todos os dias nesse país?

O que muda para nós, povo negro, depois de novembro? O Atlas da violência (2019) denuncia: Os jovens negros representam 75,7% das vítimas de homicídios. Entre 2008 e 2018, as taxas de homicídio apresentaram um aumento de 11,5% para os negros, enquanto para os não negros houve uma diminuição de 12,9%. E as negras? São 68% das assassinadas no Brasil.

Diante dessa conjuntura adversa, onde a pandemia vem aumentar o abismo da desigualdade me pergunto: Até quando veremos nossas irmãs e irmãos, Marielle (mais de dois anos sem respostas!!), João Alberto, Amarildo, João Pedro, Miguel, Cláudia, João Paulo (meu aluno) e muito mais, sucumbirem a esse sistema reatualizado pela colonialidade do poder, que define quem vai viver e quem vai morrer, que hierarquiza nossos corpos e desejos e que invisibiliza nossos saberes e epistemologias, nosso jeito de ser e de conviver?

Sei que é necessário falar sobre o Racismo, o Sexismo, o Capitalismo, afinal não tem como lutar contra o racismo sem entender e problematizar o machismo e a desigualdade de gênero. Contudo também sou capaz de falar sobre outras coisas, temos conhecimentos outros e posso, devo, quero falar sobre a educação, arte, história, mitos, sexualidade, religião e de como é ser uma mãe negra nesse país.

Essa semana mesmo pensando que este era mais um novembro algo saiu diferente. Ao ouvir as experiências de professoras e professores, de seus projetos e atividades de educação para as relações étnico raciais me senti acolhida. Eu até suspeitava mas tive a certeza de que não estava  sozinha, que a lei10639/2003 está sendo implementada mesmo diante de tanta adversidade negacionista.

As tertúlias literárias, desfiles de beleza negra, os projetos e visitas às comunidades quilombolas, as danças e performances teatrais, as produções diversas entre textos e cartazes me inspiraram a pensar em Exu – ele que é movimento e comunicação. Ao ver educadoras e educadores afirmando que não basta ser contra o racismo que precisamos de práticas antiracistas e partilhando suas experiências cresceu em mim um sentimento de potência e resistência. Estes que são como exus aos se movimentarem e infringirem a ordem vigente construindo práticas exufreireanas, dialógicas, que estimulam a autoestima das(os) estudantes, transgressoras ao entender que aprendemos com o corpo todo.

Exu que é o senhor das portas e dos caminhos mostra que mesmo em meio a tanta violência e desrespeito o movimento é potente, como o movimento das mulheres negras que resistem e criam novas possibilidades de sobreviver e de disputar os espaços que historicamente disseram que não podíamos ocupar.

Com a “NOSSA CARA” somos todas exus, fazendo um reboliço na Câmara de Vereadoras, com uma mandata coletiva, com mais de 9 mil votos e uma gama de seguidoras(es) nas redes sociais. É isso mesmo!! Parafreseando Angela Davis: quando mulheres negras, periféricas, LGBTs  se movimentam, toda a estrutura da sociedade se movimenta com elas, porque tudo é desestabilizado a partir da base da pirâmide social.

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