Por Igor Thawen
No último domingo (04/06), André Valadão, pastor fundamentalista, postou em sua rede social que “Deus odeia o orgulho”. A publicação leva as cores da bandeira LGBTQIA+ na apresentação das frases, fazendo, claramente, uma analogia a este grupo populacional.
“Por isso a tendência de quem peca é tentar se esconder e não sair do armário”. Porque pecado gera falta de paz (…)”, diz a postagem. Além de erros de ortografia, a publicação traz uma abordagem errônea, alicerçada no ódio de quem a produziu.
Por mais que não queiramos dar palco para este sujeito, achamos válido dizer que fé não combina com ódio. Afinal, identidade de gênero, orientação sexual e demais expressões de uma coletividade são aspectos intrínsecos à pessoa e não são escolhas. Essas dimensões são fundamentais para a compreensão da diversidade humana. Reconhecer e respeitar essa diversidade deve ser uma demanda contemporânea também das religiões, que não podem ficar presas a códigos sociais pré-civilizatórios previstos nas escrituras antigas destas manifestações de fé, que se tratam, na maioria das vezes, de soluções e arquétipos de determinada época. É importante lembrar que a sociedade evolui e novos conhecimentos surgem.
Mais uma vez, Valadão faz da opinião pessoal uma via para demonstrar um discurso de ódio disfarçado do falar de Deus. E saibam que ele lucra com isso. Alimentar a discórdia, promover o ódio, é uma prática lucrativa para esses mercenários da fé. E mais: a acentuação do ódio nada mais é do que a falta do amor. Isso acontece quando crenças limitantes tentam explicar algo que não compete a quem fala.
À medida que aprendemos mais sobre a diversidade humana, é necessário que as religiões se atualizem e revisitem suas interpretações, a fim de abraçar a inclusão e o respeito por todas as pessoas. Isso envolve reconhecer que as escrituras podem ser interpretadas de maneiras diversas e que é possível encontrar espaço para a diversidade dentro dos princípios e ensinamentos religiosos.
Erika Hilton, deputada federal pelo PSOL de São Paulo, indo na contramão do ódio, entrou, no último dia cinco de junho, com uma representação no Ministério Público de MG contra Valadão, por LGBTQIAfobia. “Nunca mais usarão nossa comunidade LGBTQIA+ para pregar o ódio, a violência e fazer disputas ideológicas. Deus não odeia ninguém. Quem odeia a diversidade são os farsantes e mercadores da fé! LGBTFOBIA É CRIME!”, comentou Erika no Instagram.
Hoje, somos assegurados por leis que lembram que o discurso de ódio é crime. Toda e qualquer falácia fantasiada de fé para atacar uma coletividade, é crime. Vale lembrar que a ofensa ou discriminação de gays, lésbicas, bissexuais ou transgêneros está sujeito a punição de um a três anos de prisão, prevista na Lei nº 7.716/89, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Assim como o crime de racismo, a LGBTfobia é crime inafiançável e imprescritível.
No mês do Orgulho LGBTQIA+, nós, mais uma vez, nos orgulhamos de fincar o amor como bandeira de luta e de usar a democracia como ponte de acesso a reinvindicações, mostrando, sempre, que uma opinião alicerçada no ódio é crime.
E para todas as LGBTQIA+ que acreditam nas forças divinas, um recado importante: a fé também é diversa. Existem muitas religiões hoje que promovem a compreensão, a aceitação e o respeito mútuo entre a fé e a diversidade de identidades e orientações.
É importante destacar que as interpretações e práticas religiosas podem variar dentro de cada tradição, e nem todas as comunidades religiosas adotam posições inclusivas. No entanto, algumas religiões e correntes religiosas que têm se mostrado mais progressistas e acolhedoras em relação à diversidade incluem:
- Unitarismo Universalista: O Unitarismo Universalista é uma corrente religiosa que enfatiza a liberdade de pensamento, a inclusão e o respeito por todas as pessoas, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero.
- Judaísmo Reformista: O Judaísmo Reformista tem se posicionado cada vez mais a favor da igualdade de direitos para pessoas LGBTQIA+ e tem adotado rituais de casamento e batismo inclusivos.
- Budismo: Embora o budismo não seja uma religião centrada em dogmas, muitas comunidades budistas adotam uma abordagem compassiva e respeitosa em relação à diversidade de identidades e orientações sexuais.
- Hinduísmo: Dentro do hinduísmo, existem tradições e ensinamentos que promovem a inclusão e a aceitação de pessoas LGBTQIA+. Alguns grupos hindus têm trabalhado para tornar a religião mais inclusiva e combater a discriminação.
- Unitarismo: O Unitarismo é uma corrente religiosa que enfatiza a liberdade de crença e a inclusão de todas as pessoas, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero.
- Wicca: A Wicca é uma religião neopagã que geralmente promove a aceitação e a diversidade. Muitas tradições wiccanas enfatizam a liberdade individual e a igualdade.
- Espiritualidade New Age: A espiritualidade New Age engloba uma ampla gama de crenças e práticas, e muitas delas valorizam a aceitação e a inclusão de todas as pessoas, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero.
Lembrando que essa lista não é exaustiva e que a interpretação e prática religiosa podem variar amplamente dentro de cada tradição. Além disso, indivíduos e comunidades religiosas progressistas podem existir em outras tradições religiosas além das mencionadas acima. É sempre importante pesquisar e dialogar para compreender as posições específicas de cada grupo religioso.