Dia dos pais e a diversidade sexual

Discutindo a paternidade em meio à campanha de ódio contra as representações de homens trans, o Coletivo Mães pela Diversidade chama atenção para a responsabilidade civil e afetiva dos pais

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Foto: Reprodução da Internet
Por Mães pela Diversidade, colunistas Mídia Queer

No início do mês de agosto, com propósito específico de aumentar sua receita, importante empresa do ramo de cosméticos lançou campanha publicitária usando como mote ilustrativo um transgênero na condição de pai.

Foi o suficiente para que o preconceito e o fundamentalismo religioso levantasse suas bandeiras acusando e negando essa condição, baseado sempre em argumentos depreciativos e deliberadamente excludentes.

Também deliberadamente os mesmos preconceituosos de plantão esquecem os dados escandalosos da paternidade no Brasil. De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), no país existem aproximadamente 6 milhões de crianças sem o nome do pai no registro de nascimento. Ou seja, o mesmo macho que cobra posturas morais deturpadas também deixa de lado o criminoso critério de não assumir a paternidade.

A condição de pai não é uma mera formalidade orgânica. É, antes disso, uma apelo afetivo que vai muito além da sexualidade. E sexualidade, como se sabe, não está no que define o corpo, mas no que molda a personalidade integral de todos os seres humanos. Discutir uma formalidade como preponderante na vida social é um sintoma de que ainda engatinhamos no reconhecimento das emoções acima da regra rígida imposta por uma certa sociedade, que no fundo não tem condição alguma de apontar o certo ou errado, quando se trata de um gesto tão pessoal como libertário em direção da vida, que é o bem mais precioso de toda a existência na Terra.

Assim, ser PAI está muito mais ligado a escolha deliberada de um papel social onde entram em questão sensibilidade e comprometimento com um filho ou uma filha do que a retórica biológica perdida em discussões que escamoteiam a verdadeira condição das crianças brasileiras.

O que deveria preocupar mesmo os moralistas medievais são os milhões de seres humanos que vivem nos abrigos sem vínculo familiar nenhum; os outros tantos milhares que moram nas ruas das cidades e não a escolha sexual daquele (ou daquela) que abraça a condição de pai e não simplesmente de genitor (e que as vezes nem isso assume).

Por isso, a declarada polêmica em relação a sexualidade do pai (e da mãe, também) é mais um motivo para acordar entre os que se contrapõem a essa ideia preconceituosa e distante do presente, que o mais importante em todos os casos é a criança e que o resto do assunto é mero resquício de uma sociedade que ainda teima em manter-se apegada aos valores que vão contra a legitimidade da Vida.

E toda criança, o que quer e precisa mesmo, é de amparo e de abrigo, pouco importando o sexo biológico de onde vem esses afagos e incentivos, que são o que verdadeiramente interessam em toda a relação afetiva.

Diante desse cenário doentio e temeroso pelo qual passa o Brasil, é preciso afirmar que a diversidade sexual é a mais clara evidência de que, acima dos falsos argumentos científicos e do moralismo decadente, o que vale mesmo são as disposições de tantas pessoas em levar adiante aquilo que descortina diante da obscuridade o magnífico sentido da Vida.

Mães pela Diversidade do Ceará: Agrupamento local do coletivo que tem como pilares a independência, laicidade e o suprapartidarismo. Nasceu em São Paulo, em 2014, fruto de um encontro espontâneo de mães e pais de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais de todo o Brasil, preocupados com o avanço do fundamentalismo religioso, a insegurança jurídica, o preconceito e a violência contra a população LGBTQI+.

2 COMENTÁRIOS

  1. Texto fantástico das mães pela diversidade! Precisamos falar sobre O papel
    dessa paternidade pela diversidade! Parabéns Mães! Parabéns Mídia bixa!!!

  2. Por um mundo mais leve, mas amado, mais colorido!!!
    #maespeladiversidade
    @maespeladiversidadelojace

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