Por Fabio Mendes, colunista Mídia Queer
Para abrir nossos trabalhos, suscito um tema que nos remete a muitas reflexões e que não somente localiza o trânsito de pessoas LGBTI+ nas religiões de matriz africana como também explica essa relação de acolhimento em casas da religião.
Ressalto que o tema abordado neste texto, fruto da minha incursão na Umbanda e no Candomblé, há pouco mais de um ano, acende uma série de outros debates e que pretendo ofertar humildemente aos/às leitores/as do jornal como contribuição às lutas da população LGBTI+.
Primeiro, é preciso que se entenda que as religiões de matriz africana são religiões contra hegemônicas, pois rompem com a supremacia judaico-cristã tão difundida ao longo da história da humanidade. Não por acaso, os grupos de extrema-direita pelo mundo (inclusive aqui no Brasil) resolveram reforçar os princípios que balizam a tal “civilização judaico-cristã”, que na verdade representam uma ideia de civilização patriarcal que reproduz um modo de vida que ergueu e replicou o machismo, o racismo, o sexismo e a LGBTIfobia.
“são os terreiros e Ilés que mais abrigam a diversidade sexual, mesmo com todas as contradições fruto dessa cultura judaico-cristã”
Assim, Casas de Umbanda e Candomblé apresentam-se como espaços de luta e resistência, herança ancestral, e quê, partindo desse princípio, mais acolhem pessoas LGBTI+. Apesar da proliferação das “igrejas inclusivas”, são os terreiros e Ilés que mais abrigam a diversidade sexual, mesmo com todas as contradições fruto dessa cultura judaico-cristã que ainda afetam a organização de algumas destas casas.
Observa-se, por exemplo, que muitos sacerdotes e sacerdotisas são LGBTI+, o que facilita a compreensão de que, partindo dessa característica, ou melhor, “essência” da religião, acolher pessoas que sofrem as muitas formas de preconceitos propagadas pela cultura ocidental judaico-cristã é um papel que vai além da religião, mas se configura como um compromisso com essa ruptura que tanto maltrata pessoas que não se enquadram no padrão heteronormativo.
As casas comprometidas com esse acolhimento não estão somente rompendo com esses padrões, mas, sobretudo, estão ajudando pessoas LGBTI+ a traçar novos caminhos que dizem respeito à sua trajetória de vida, sua existência, e sem a espiritualidade não seria possível RESISTIR.
Como disse incialmente, o tema suscita outras questões que envolvem identidade, hierarquia, relações sociais, cosmologia, entre outros, e que ao longo desse trabalho para o Jornal pretendo trazer.
Finalmente, manifesto meu agradecimento pelo convite para integrar esse time do midiaqueer.com e, especialmente, aos ensinamentos e amor de minha Mãe de Santo, Carmem Gadelha, e meu pai de Santo, Babalorixá Linconly Jesus.
Axé e até a próxima!