Por Dediane Souza, colunista Mídia Queer
Inicio essa escrita trazendo algumas referências: a música de Caetano Veloso “Três Travestis” e a canção “Balada de Gisberta”, composição de Pedro Abrunhosa conhecida no Brasil na voz de Maria Bethania.
Aqui também vou fazer referência a três travestis brasileiras assassinadas: Gisberta, assassinada na cidade de Porto em Portugal e homenageada na música Balada de Gisberta; Dandara Kettley, do caso “Dandara dos Santos”, assassinada em 2017 em Fortaleza (CE); e Soraya Oliveira assinada esse ano em Fortaleza.
Trago essas referências para problematizar os números que são assustadores no que diz a respeito de assassinatos de LGBT no Ceará, em especial das travestis e transexuais, que estão cotidianamente envolvidas em “situações de disputa de território”: estão disputando imaginários na sociedade; aquilo que é posto como “ser travesti” está ressignificando sua identidade gênero.
A transfobia está diretamente ligada ao corpo dessas pessoas que não têm como se camuflar, tornando o seu corpo o alvo mais fácil das violências que têm seu maior motivador a violência de gênero e a intolerância.
Dados do Centro de Referência LGBT Janaína Dutra apontam que chegou a 100 o número de casos de assassinatos de LGBT no estado do Ceará com características que denotam a LGBTfobia no intervalo de Janeiro de 2017 a Agosto de 2020.
Desses 100 casos, 38 foi em Fortaleza e 62 no interior do Ceará; desses, 57 são de pessoas trans; 54 de Mulheres Transexuais e Travestis; e três de Homens Transexuais. De todos os casos, 54 vitimaram fatalmente Mulheres Transexuais e Travestis: 23 ocorreram em Fortaleza e 31 ocorreram no interior do Ceará.
A transfobia é um fenômeno social cujo alcance vai muito além do ambiente doméstico, escolar, social, público/institucional, chegando ao mercado de trabalho, restando a prostituição como única alternativa de trabalho para as mulheres transexuais e travestis.
As polêmicas envolvendo pessoas trans e travestis, nesse último período, mostram o quanto ainda necessitamos de falar sobre os corpos trans.
Venho aqui novamente para debater o lugar de humanidade das travestis e transexuais no Brasil: a visibilidade dos invisíveis, porque estamos invisíveis na perspectiva do acesso às políticas públicas e na reivindicação do lugar de humanidade, porém, estamos visíveis para as mais diversas formas de violências que possamos imaginar.
Aproveito para registrar que temos outras três travestis assassinadas em fortaleza na primeira quinzena de agosto de 2020. São elas: Ludmila, Leticia Costa e uma outra ainda não identificada.
Necessitamos organizar o nosso ativismo na perspectiva de uma mobilização para que esses casos não sejam mais um número que nos tira o sono cotidianamente; que possamos nos fortalecer enquanto comunidade para cobrar punição por todas as pessoas LGBTs que tombaram vitimas da ignorância, das vulnerabilidades, da violência, da intolerância e da LGBTfobia. Necessitamos, hoje mais do que nunca, de construir estratégias de sobrevivência a esses contexto de naturalização da violência, do ódio e da morte.
Vidas de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais importam!
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