Veja como a segunda temporada de Heartstopper abre novos caminhos para a TV

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Desde a exploração da saúde mental até a representação de identidades marginalizadas, veja como a segunda temporada de Heartstopper abre novos caminhos para a televisão.

Foto: Reprodução/Heartstopper

Lembra da representação LGBTQIA+ na tela antes de Heartstopper? Desoladora! Pra caramba! Antes, a grande maioria das produções insistia em retratar o trauma relacionado à orientação sexual ou identidade de gênero, como bullying, LGBTQIAfobia e – “adoramos” esse! – assassinato. Desde a primeira temporada da amada série da Netflix, o coração de milhões ao redor do mundo era conquista por uma história encantadora, basicamente do bem. É verdade que a segunda temporada é um pouco mais intensa que a anterior. No entanto, sua exploração de temas sensíveis, desde automutilação até sair do armário, ainda mantém a essência de Heartstopper (otimismo, charme e rabiscos animados) e, como resultado, a série continua abrindo novos horizontes para a visibilidade LGBTQIA+ na telinha. Continue lendo para conhecer as histórias mais inovadoras da segunda temporada de Heartstopper abaixo e, é claro, já adianto: CONTÉM SPOILERS!

Nick não é obrigado a se assumir

Foto: Reprodução/Heartstopper

Uma das histórias centrais da segunda temporada é o desejo de Nick (Kit Connor) de se assumir bissexual e revelar seu relacionamento com Charlie (Joe Locke) para seus amigos e colegas de classe. Mas, como os LGBTQIA+ sabem, sair do armário é mais fácil de falar do que fazer e, é claro, varia de acordo com a raça, sexualidade, identidade de gênero e criação da pessoa, entre outros fatores. O que é incrivelmente refrescante na abordagem de Heartstopper para um dos momentos mais marcantes na vida de uma pessoa queer é que Nick não é obrigado a se assumir. Ele é constantemente incentivado por sua mãe (interpretada por Olivia Colman) e por Charlie a fazer isso em seus próprios termos; como Charlie diz: “Nick, está tudo bem, não há prazo.” Quando Nick revela sua sexualidade à turma, fica claro que ele o fez porque finalmente está em paz com quem é, e isso talvez não fosse o caso se ele fosse exposto ou pressionado a se assumir antes de estar pronto.

O apoio da treinadora Singh

Foto: Reprodução/Heartstopper

No terceiro episódio, a treinadora Singh (Chetna Pandya) pega Nick e Charlie se beijando em um depósito (você vai descobrir ao longo da temporada que segredo não é o forte deles). O que se segue é uma conversa calorosa entre Nick e Singh, onde ela dá seu apoio incondicional ao casal e diz a ele que, se “qualquer um dos rapazes” do time de rugby “disser algo fora de linha”, ele deve avisá-la – para que ela possa, presumivelmente, dar uma bronca na ignorância deles. (A professora que todos os LGBTQIA+ precisam e merecem!). Ela posteriormente revela a Nick que “as coisas eram bem difíceis” em termos de aceitação de pessoas queer quando ela jogava rugby feminino na universidade, onde conheceu sua esposa. (Um momento de epifania para Nick.) E, seguindo o exemplo de sua mãe e Charlie, Singh reitera a Nick que ele não precisa necessariamente se assumir ainda, dizendo que seus colegas de time de rugby não têm “direito” a essa informação. Como pessoa LGBTQIA+ mais velha que já enfrentou discriminação e homofobia, fica claro que o apoio de Singh significa muito para Nick.

Sei que não como como as pessoas normais

Foto: Reprodução/Heartstopper

Durante a excursão escolar a Paris, Charlie desmaia inesperadamente no meio do Louvre. Mais tarde, Nick tenta entender por que isso aconteceu, dizendo a Charlie que ele notou sua “falta geral” de apetite e que ele “comeu menos” do que o habitual. Depois que Charlie se desculpa, Nick enfatiza que ele “não tem nada pelo que se desculpar” e que simplesmente deseja entender o que ele está passando. “Eu sei que não como como as pessoas normais”, confia Charlie. “Alguns dias estou bem, mas em outros sinto que preciso… controlar isso.” (Dê outro Emmy a Locke e Connor por esta cena, honestamente.) De acordo com The Trevor Project, jovens LGBTQIA+ “experimentam taxas significativamente maiores de transtornos alimentares” em comparação com seus colegas cisgêneros e heterossexuais. Como resultado, certamente haverá espectadores dissidentes que se identificarão com a jornada de Charlie. Abordar um problema tão delicado em uma série como Heartstopper, feita especialmente para jovens LGBTQIA+, é inovador.

“Eu não quero mais me sentir assim”

Foto: Reprodução/Heartstopper

Seguindo o ponto anterior, o final da segunda temporada mostra Charlie abrindo o coração sobre os agressores anti-LGBTQIA+ e como suas ações homofóbicas e ignorantes afetaram sua saúde mental. “As pessoas me chamavam de nojento na cara. E durou tanto tempo que acho que comecei a acreditar no que eles estavam dizendo. Isso me fez me odiar muito”, ele diz a Nick, antes de revelar que isso o levou a se machucar: “Eu não quero mais me sentir assim.” Assim como nos transtornos alimentares, as pessoas LGBTQIA+ são mais afetadas desproporcionalmente pela automutilação e pensamentos de suicídio em comparação com seus colegas cisgêneros e heterossexuais. A Pesquisa Nacional de 2022 do Projeto Trevor sobre a Saúde Mental dos Jovens LGBTQIA+ descobriu que 45% dos jovens deste grupo social “consideraram seriamente” tentar suicídio no ano anterior. Novamente, considerando o alcance de Heartstopper, especialmente entre os jovens, as lutas de Charlie com a automutilação e os transtornos alimentares certamente ajudarão milhares de pessoas a lidarem com suas próprias dificuldades. Esperançosamente, isso também as inspirará a buscar ajuda.

“Elle é a garota mais especial”

Foto: Reprodução/Heartstopper

Nos primeiros minutos do episódio sete, a mãe de Tao (William Gao), Yan Xu (Momo Yeung), entra no quarto e o encontra dançando em estado de euforia. Quando ele revela que está tão feliz porque ele e Elle (Yasmin Finney) estão oficialmente juntos, a reação dela é de pura alegria. “Elle é a garota mais especial, a garota perfeita para o meu garoto perfeito”, ela diz, animadamente, afirmando que deve ligar para todos os parentes deles. Com a retórica anti-trans odiosa ainda presente nas notícias do Reino Unido, local em que é ambientada a série, e no mundo, ver uma mãe celebrando o relacionamento de seu filho com uma pessoa trans – sem conversas clichês sobre o que isso pode significar para a sexualidade de Tao – é bastante radical.

A jornada assexual de Isaac

Foto: Reprodução/Heartstopper

Heartstopper já é inovador por retratar tantas identidades dentro do guarda-chuva LGBTQ+: L, com Tara (Corinna Brown) e Darcy (Kizzy Edgell); G, com Charlie (Locke) e Ben (Sebastian Hope); B, com Nick (Connor); e T, com Elle (Finney) e Naomi (Bel Priestly). Na segunda temporada, uma das identidades LGBTQIA+ mais marginalizadas é representada por Isaac (Tobie Donovan), que aparentemente está enfrentando sua identidade assexual. (Apenas para informação: apenas dois de 637 personagens LGBTQIA+ na TV entre 2021 e 2022 eram assexuais). “Eu não sei como deveria me sentir quando tenho uma queda por alguém. Li todos os livros em que as pessoas se apaixonam, e ainda não tenho absolutamente nenhuma ideia”, ele diz a James (Bradley Riches), por quem está interessado. “Acho que pode haver algo errado comigo”. Mais tarde, Isaac conhece uma artista aromântica e assexual, que explica como é viver em um mundo “onde o romance e o sexo são valorizados acima de tudo, quando você não sente essas formas de atração”. Fica claro que Isaac se identifica com o que ela diz, e embora ele não se rotule como assexual na série, a equipe por trás de Heartstopper está abrindo novos horizontes ao dar ao personagem espaço para explorar ser aromântico/assexual. Esperançosamente – dedos cruzados e tudo mais! – esta história pioneira continuará na terceira temporada.

Sororidade trans

Foto: Reprodução/Heartstopper

Em 2023, ainda é raro para um programa de televisão – ou qualquer mídia, para ser mais preciso – ter um personagem trans principal, muito menos um personagem trans cuja narrativa não gire exclusivamente em torno de sua identidade trans. É por isso que Elle (Finney) é considerada uma das personagens LGBTQIA+ mais inovadoras da história. Na segunda temporada, Elle conhece Naomi, uma adolescente trans que, assim como ela, está se candidatando à Escola de Arte Lambert. Elas se identificam imediatamente uma com a outra e se aproximam de Naomi e seu amigo Felix (Ash Self) ao longo da temporada. Naomi revela que odeia sua escola atual porque é conhecida como “a garota trans” e quer ser aceita na Lambert para ser simplesmente conhecida como Naomi. Elle se identifica instantaneamente com isso e desenvolve uma relação próxima com Naomi e Felix durante a temporada. Com a imprensa mainstream ainda perseguindo a comunidade trans no Reino Unido, é monumental ver duas adolescentes trans prosperando e encontrando conforto uma na outra. Mais dessa sororidade trans, por favor!

A segunda temporada de Heartstopper já está disponível na Netflix.

Se você foi afetado por algum dos temas abordados neste artigo, você pode procurar por suporte. No Ceará, existe o Centro de Referência Estadual LGBT+ Thina Rodrigues , que fica na Rua Valdetário Mota, 970, no bairro Papicu, em Fortaleza. O atendimento é de segunda a sexta, das 8h às 17h. Informações: (85) 98993-3884.

Texto originalmente publicado no site Gay Times.

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