Queer coding: Os vilões de nossa infância eram LGBTQIA+?

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Pode parecer inacreditável, mas houve uma época em que a televisão e o cinema adoravam retratar vilões seguindo clichês e estereótipos homossexuais, como se todos os gays fossem depravados e maus (pelo menos segundo eles). O plano por trás dessa ideia genial era usar filmes, programas de TV, literatura e outras formas de mídia para criar representações queer de forma sutil ou simbólica.

Tal empreendimento é o que chamados de “queer coding” (traduzido como “codificação queer”) e pode incluir elementos como moda extravagante, maneirismos afeminados ou masculinizados, voz e linguagem não conformes com as normas de gênero dominantes, bem como relacionamentos ou dinâmicas ambíguas ou subtextuais entre personagens. Esses elementos são inseridos nas narrativas por criadores LGBTQIA+ como uma forma de representar a diversidade sexual e de gênero, mesmo que de maneira velada, devido à pressão da cisheteronormatividade predominante na sociedade.

Esses personagens não são necessariamente LGBTQIA+, mas é seguro dizer que ninguém deveria ficar surpreso com o fato de que vilões com estereótipos queer oferecem inspiração para pessoas que manifestam as dissidências sexuais e de gênero. Algumas dessas caricaturas são ofensivas, outros apenas divertidas, mas de qualquer forma, todos elas são fabulosamente queer.

Na lista abaixo, conheça 8 vilões queer-codificados. Os LGBTQIA+ de nossa infância:

Úrsula

Foto: Reprodução de Ursula / YouTube da Disney Brasil

Este polvo sinuoso nos ensinou tudo sobre como usar a linguagem corporal enquanto ela deslizava da escuridão e se envolvia em torno daquela doce pequena sereia. Baseada na lenda drag da vida real, Divine, Ursula conseguiu se tornar um ícone queer para ambos os sexos. Sutilmente, a diva explicou para menina Ariel que gênero e sexualidade eram maleáveis ​​e performativos – e isso foi revolucionário. Anote-se que na Disney, começando com Ursula, os personagens codificados queer eram quase exclusivamente vilões (e isso rende outra história).

Xena: Princesa Guerreira

Foto: Reprodução / Youtube Xena: A Princesa Guerreira

Ok, Xena é tecnicamente conhecida como uma heroína, mas quando fomos apresentados a ela em Hercules: The Legendary Journeys , ela era uma vilã total em busca de vingança pela morte de seu irmão. De qualquer forma, ela representa tudo o que é poder e dominação, e seu relacionamento com Gabrielle é um retrato íntimo do romance. Além disso, o traje de couro, o chakram, o chamado de guerra? Por favor.

Coringa

Foto: Reprodução do Youtube / Coringa

Com os quadrinhos, é difícil definir o que está no personagem, pois (especialmente com personagens populares) isso varia muito de escritor para escritor. Com isso dito… MUITOS escritores exploraram esse ângulo dos relacionamentos complicados do Coringa e do Batman. (Alguns mais do que outros, mas está longe de ser uma coisa única.) E ninguém pode argumentar que ele não é um homem muito bem vestido, não importa a versão.

James

Oh James, seu pateta adorável e terrivelmente malsucedido! Ele é, sem dúvida, exagerado e extravagante, embora isso por si só obviamente não torne alguém gay. Quando a sua Equipe Rocket, de Pokémon, é formada pelas rainhas do drama Jesse e Meowth, você precisa estar pronto para competir! James não foge do desafio, seja nos duplos sentidos e ou nas piadas visuais para nos alertar sobre sua orientação sexual.

A Rainha de Copas

Foto: Reprodução do Youtube / Alice no país das maravilhas (2010)

“Cortem a cabeça dela”, quero dizer, preciso dizer mais? A Rainha de Copas é uma vilã fabulosa e icônica que já viu muitos retratos ao longo dos anos (e podemos ser um pouco parciais em relação a Helena Bonham Carter). Ela representa o “coração” do conflito para Alice no País das Maravilhas, e seja do original texto onde a personagem nasceu ou qualquer versão dela nas telas, ela representa tudo o que almejamos em uma vilã icônica.

Lord Humungus e Aunty Entity

Em Mad Max, Lord Humungus é o líder de uma gangue de motoqueiros super queer e excêntrica liderada pelo mega papai de couro Lord Humungus. Tal como na subcultura leather, os saqueadores são impiedosos! Não esqueçam de Tina Turner, que está memorial como Aunty Entity. Sua presença marcante, super drag e estonteante demarca uma das vilãs mais enigmáticas e complexas produzidas até aquele momento.

Esqueleto

Foto: Reprodução do Youtube / He-Man salva Skeletor

Partindo do principio que He-Man, segundo o canal Syfy, foi considerado “o programa mais gay que já apareceu na TV”, a leitura queer do personagem He-Man, particularmente em seu relacionamento com o vilão Esqueleto, foi referenciada em outras mídias e o relacionamento deles costuma ser descrito como homoerótico. David Chlopecki argumenta que a aparência dos personagens da série era recheada de estereótipos gays. Não esqueçam da busca incessante pelos “poderes fabulosos” de uma espada fálica.

Crítica social

Retratar pessoas queer como vilões também pode ter sido uma estratégia de crítica social, uma forma de destacar e questionar a discriminação e preconceito existentes na sociedade em relação à diversidade de orientação sexual ou identidade de gênero.

A estratégia também funciona como uma antítese à ideia de herói, que representa a norma social. Enquanto as figuras heróicas são frequentemente retratados como personagens heterossexuais e cisgêneros, que se enquadram nas expectativas tradicionais de gênero e sexualidade, a vilania desafia essas noções rígidas e autoritárias e representa uma ameaça à ordem estabelecida.

No entanto, é importante ressaltar que o “queer coding”, mesmo nesta perspectiva, não é isento de críticas. Muitas vezes, a representação de pessoas queer como vilões pode reforçar estereótipos negativos e perpetuar a marginalização. É necessário ter cuidado para garantir que as representações queer sejam diversas, complexas e, quiçá, também positivadas, de modo a evitar a estigmatização e a perpetuação de preconceitos.

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