Pessoas LGBTI+ acreditam que Governo Bolsonaro influencia no aumento do preconceito

73% dos entrevistados dizem que o Governo Federal estimula a LGBTIfobia e 53% já sofreram algum tipo de discriminação por conta da orientação sexual ou da identidade de gênero

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Bolsonaro protesta contra pautas LGBTI+ no plenário da Câmara. Foto: Agência Brasil
Por Rafael Mesquita e Igor Thawen

O homem responsável pela afirmativa “sou homofóbico, sim, com muito orgulho” hoje é o presidente dos mais de 200 milhões de brasileiros. Desde a famigerada campanha eleitoral do falacioso Kit Gay e, sobretudo, nestes dois primeiros anos de mandato, Jair Bolsonaro tem acumulado diversos discursos que estimulam o ódio contra a população lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual e intersexual (LGBTI+), além de ser responsável pelo desmonte das poucas políticas públicas nacionais voltadas para essa multidão, como nas áreas de saúde, educação e assistência.

Não à toa, 73% das pessoas LGBTI+ entrevistadas pela pesquisa “Oldiversity”, do grupo Croma, dizem que o atual governo influenciou no aumento do preconceito de gênero ou orientação sexual, ou seja, sete em cada dez brasileiros LGBTI+ consideram que Bolsonaro estimula a LGBTIfobia. Além disso, 53% dos participantes do estudo afirmam que já sofreram algum tipo de discriminação pela sua orientação sexual e/ou identidade de gênero.

Vítimas de um homofóbico fora do armário, corpos dissidentes do cisheteropatriarcado –sistema social opressor onde a heterossexualidade cisgênero masculina tem supremacia sobre as demais formas de identidade de género e sobre as outras orientações sexuais – estão sendo exterminados. Diversos levantamentos, como o Trans Murder Monitoring (“Observatório de Assassinatos Trans”, em inglês) apontam o aumento da violência letal contra esta população. O estudo internacional indicou, inclusive, que, pelo 12º ano consecutivo, o Brasil é país que mais mata transexuais no mundo.

LGBTIs participam de ato público contra Bolsonaro em São Paulo em 2018. Foto: Amanda Perobelli / Folhapress

Edmar Bulla, CEO do Grupo Croma, destaca que a “Oldiversity” também evidenciou que as agressões física e verbal pertencem ao cotidiano da comunidade LGBTI+ no Brasil. “Estamos vivendo um momento delicado no país com o aumento da intolerância e do discurso de ódio contra grupos que fazem parte da diversidade. Infelizmente as pessoas são agredidas pelo simples fato de serem quem são. Essa violência é um reflexo do preconceito, que por sua vez deriva da falta de informação e da ignorância”, enfatiza.

Diversidade é aceita pela grande maioria da população

Para o empresário,  as marcas tem um papel importante no enfrentamento desta problemática, através do estímulo a uma perspectiva pró-diversidade que já está presente na sociedade e foi identificada na pesquisa: analisando os dados de todas os segmentos escutados pelo estudo, é possível identificar que 77% dos entrevistados declaram aceitar a diversidade, 70% acreditam que as empresas e marcas devam integrar o tema diversidade e 54% dos entrevistados acreditam que as propagandas ajudam a criar uma sociedade mais tolerante.

Esse caminho é defendido justamente por quem é a vítima potencial da LGBTIfobia. 68% dos entrevistados declaram que as propagandas ajudam a criar uma sociedade mais tolerante à diversidade e que 72% gostariam de ver mais propagandas com elementos de diversidade. Bulla destaca que é preciso “abordar e incluir esse tema na sua comunicação para fomentar o debate e gerar esclarecimento para a sociedade”, explica, contrapondo-se a uma parcela social que ainda difunde a intolerância.

Preconceito no mercado de trabalho

A difícil inserção laboral de pessoas LGBTI+. Foto: Getty Images

No entanto, o CEO do grupo Croma lembra que a realidade mostra que as empresas estão muito longe do que o público espera, seja na publicidade, oferta de produtos e serviços e em empregabilidade para pessoas LGBTI+, assim como públicos longevos e pretos.

Além de não visibilizar, 75% dos entrevistados de orientação sexual e identidade de gênero diversas apontaram que as empresas têm preconceito em contratar um profissional LGBTI+. Embora algumas empresas já despertaram para este cenário e há tempos vem investindo em elementos e mensagens para o público, a realidade mostra que o grande mercado de trabalho brasileiro segue produzindo marginalização econômica para as multidões queer.

Situação preocupante e que exige um pacto social urgente para mudança, haja vista que, em meio a um Governo que atua contra os direitos LGBTI+, vítimas da rejeição familiar e também pelo mercado de trabalho, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais são dizimados. A situação é mais grave ainda para a esmagadora maioria de travestis e transexuais, que são levadas a buscar sustento em trabalhos informais, principalmente na prostituição. Tudo isso somado à desfavorável conjuntura atual, marcada pela pandemia de Covid-19 e pelo aumento da barbárie policial.

Sobre a pesquisa “Oldiversity”

O estudo ouviu 2032 entrevistas on-line com a população de todo o Brasil, realizadas entre 23 e 31 de julho de 2020, o Grupo Croma lançou a segunda edição do “Oldiversity”, com metodologia aplicada utilizando cotas de idade, gênero, região geográfica, classe socioeconômica, e cotas específicas de raça, orientação sexual e PCDs. A margem de erro é de até 2 p.p. para amostra total, considerando nível de confiança de 95%. Os resultados foram ponderados para representar a população brasileira das classes ABC.

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