Jesus não é mais Pai de todos?

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Por Igor Thawen

Na última sexta-feira, 26 de julho, ocorreu a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Verão de 2024, às margens do Rio Sena, em Paris, França. O evento foi marcado por representações culturais de diversos países, destacando a união em prol do esporte. No entanto, um segmento específico da celebração chamou a atenção, especialmente da parcela conservadora do público.

Durante uma das apresentações, dançarinos, drag queens e outras figuras diversas encenaram uma obra de arte da antiguidade. Muitos espectadores, erroneamente, acreditaram que a peça representava “A Última Ceia”, o famoso afresco de Leonardo da Vinci, datado de 1495. A presença de pessoas LGBTQIA+ na representação gerou uma onda de reações preconceituosas nas redes sociais. Na verdade, a performance fazia referência à obra “A Festa dos Deuses”, pintura de Giovanni Bellini e Ticiano, executada em 1514.

O verdadeiro choque veio da apropriação desse momento para reforçar discursos de ódio contra a comunidade LGBTQIA+. O professor e historiador Odir Fontoura, em uma publicação do Jornal The Intercept Brasil, esclareceu que a apresentação homenageava Dionísio, um deus grego, e não Jesus. A falta de conhecimento em história da arte, segundo Fontoura, é um problema significativo. A organização do evento também precisou explicar, via Twitter, o contexto correto da representação, confirmando que se tratava de “A Festa dos Deuses”.

A DJ francesa Barbara Butch, que participou do coletivo responsável pela homenagem, denunciou às autoridades as ameaças recebidas após o evento. Segundo sua advogada, Audrey Mesellati, Butch enfrentou ameaças de morte, tortura e estupro, além de inúmeros insultos homofóbicos, sexistas e gordofóbicos. Essa situação ilustra como a intolerância se manifesta de forma violenta e desproporcional contra a diversidade.

A questão fundamental é que, mesmo que a apresentação fosse uma interpretação moderna de “A Última Ceia”, não haveria problema. A diversidade é uma realidade, e a espiritualidade não se limita a orientação sexual, identidade de gênero, classe social ou cor. Nesse cenário de preconceito, Jesus pareceria amar poucos. Para alguns, é mais fácil acreditar que Jesus apoia aqueles que apedrejam, em vez daqueles que são apedrejados. É importante lembrar que Leonardo da Vinci, o autor de “A Última Ceia”, era um homem que amava outros homens.

No final, não se trata de devoção a Jesus, à Santa Ceia, a Deus ou a qualquer outra divindade. Trata-se do desejo de perpetuar o preconceito e o ódio internalizados. A verdadeira questão é que Jesus não condena, mas a LGBTQIAfobia, sim, pois é crime. A luta contra a intolerância e o ódio é uma batalha contínua, e eventos como este servem para destacar a necessidade de maior compreensão e aceitação da diversidade.

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