Émerson Maranhão: É preciso estar atento e forte

Crise pós-pandemia e eleições municipais formam o cenário ideal para Bolsonaro e seus asseclas tentarem emplacar a pauta ultraconservadora, que ameaça direitos de pessoas LGBT (XYZ)

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Por Émerson Maranhão, colunista Mídia Queer
Foto: Reprodução da Internet

Que não nos enganemos, o pior está por vir. Passada a pandemia, ou melhor, o pico da pandemia, o País entrará em uma das piores recessões de sua história. E adivinhem como o governo reagirá à crise econômica? Trazendo ao centro da ribalta a tal pauta ideológica conservadora, que ameaça os direitos de pessoas LGBT (XYZ), atenta contra liberdades individuais e representa um retrocesso inimaginável em nossa democracia.

Por óbvio, tal pauta não ajudará a minimizar um milímetro da crise, mas isso não importa. O que interessa é distrair as massas (cada vez menores, graças a Deus!) de apoiadores de Bolsonaro e seus asseclas. Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha, em abril deste ano, o grupo que se mantém mais fiel ao atual presidente é o de evangélicos. O mesmo, aliás, que lhe dá os maiores índices de aprovação (41% em contraponto aos 33% da população em geral).

Não à toa, Bolsonaro se empenha em acenos a este segmento, como a promessa (ou seria ameaça?) de um ministro “terrivelmente evangélico” no STF, e a recente nomeação de um evangélico para o Ministério da Educação. Este senhor, aliás, é um pastor que atrás do púlpito já normalizou feminicídio e defendeu que crianças devem “sentir dor” ao serem educadas.

E aqui, um esclarecimento faz-se necessário. Este colunista nada tem contra evangélicos nem contra quem professa qualquer religião. Apenas entende que ter fé em determinada crença não pode ser qualificativo para o desempenho de funções públicas em um estado laico. Simples assim! A um ministro do STF deve exigir-se que domine o conhecimento jurídico, e não versículos do Velho Testamento.

Para completar o cenário dantesco, este é um ano de eleições municipais. Por certo, o “Fantasma da Mamadeira de Piroca” ressurgirá do quinto dos infernos, assim como voltará diretamente do purgatório o perigo iminente da “Besta da Ideologia de Gênero”, e o risco do ataque do “Ensino de Opção Sexual (sic)” nas escolas.

Aos de memória curta, fake news como estas foram propagadas aos quatro templos na campanha de Jair Messias e ajudaram a pavimentar seu caminho até o Palácio do Planalto. Não será diferente desta vez.

Aliás, nesta semana mesmo, o presidente já publicou em suas redes sociais que “a esquerda quer descriminalizar a pedofilia, transformando-a em uma mera doença ou opção sexual”. Ou seja, já está começando a colocar o bloco na rua, para gozo e júbilo dos seguidores de sua seita. Afinal, só há herói se houver uma ameaça a combater. Sem o inimigo intimidatório a espreitar, o herói perde sua função – e sua graça!

Quem quiser entender a lógica que alicerça essa estratégia, recomendo assistir ao excelente filme A Vila (2004), de M. Night Shyamalan. É imperdível e deveras esclarecedor. Quem já o viu há tempos, vale uma nova sessão com o olhar voltado para os dias atuais.

Por conta da pandemia – e da intervenção providencial do STF –, essa pauta ultraconservadora não pôde avançar a contento do presidente. No entanto, ainda que sem muito alarde, Bolsonaro segue com sua missão de destruir “tudo o que está aí”, com especial atenção para a área da cultura e do comportamento.

Mais que nunca, é preciso estarmos atentos e fortes, como na antológica canção de Caetano e Gil. Além de não termos tempo de temer a morte, temos que estar a postos para uma batalha que não será nada fácil.

CABUMBA!

Foto: Divulgação

A barraca de praia Cabumba reabriu hoje, depois de quase quatro meses fechada devido à pandemia da Covid-19. Ela volta à ativa adaptada a todos os protocolos necessários e com equipe treinada para atender nestes novos tempos. Vida longa à Cabumba!

 

VOLTO PORQUE TE AMO

Foto: Reprodução do Filme

O filme Viajo porque preciso volto porque te amo, de Marcelo Gomes e Karim Aïnouz, será exibido na próxima terça-feira, 21, às 17hs, na programação do festival “Gente é pra brilhar”. O evento arrecada doações para profissionais da cultura no Ceará. No mesmo dia, só que mais cedo, às 13hs, Karim Aïnouz participa de um bate-papo com este colunista. Para assistir tanto a conversa quanto ao filme: no Instagram @festivalgenteeprabrilhar e Facebook Festival Gente É Pra Brilhar

ÉMERSON MARANHÃO: Jornalista, roteirista e diretor de cinema. Durante 15 anos, redigiu e editou a Cena G, coluna voltada para o público LGBTQ+ no Jornal O Povo. Estudou Narrativas Transmidiáticas na Universidade de Tallinn (Estônia). Em reconhecimento à sua militância, o jornalista foi homenageado no 6º For Rainbow em 2012.

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