Ele não está tão a fim de você… ou está?

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Por Brian Silva

Há muito tempo, eu havia decidido que relacionamentos não eram para mim. Cada desilusão me fazia duvidar de tudo isso, até que me tornei uma espécie de eremita emocional. Mas então, em um momento de fraqueza, decidi dar uma chance ao que o aplicativo de relacionamentos poderia me oferecer.

Foi assim que conheci Lucas. Sua foto de perfil exibia um sorriso cativante e sua mensagem de introdução era divertida e interessante. Nossas conversas iniciais fluíram facilmente, como se já nos conhecêssemos há anos. Eu me peguei sorrindo para o celular e me permiti acreditar que talvez, finalmente, tivesse encontrado alguém que valesse a pena conhecer.

Lucas era ótimo em manter contato. Ele me mandava mensagens todos os dias, checando como eu estava e compartilhando detalhes sobre sua vida. Nossas conversas eram profundas, cheias de confidências e risadas. No entanto, à medida que o tempo passava, comecei a perceber que essas conversas não estavam evoluindo para algo mais sério.

Ele me convidava para sair, e eu sempre aceitava animadamente. Mas, assim que o dia se aproximava, ele começava a inventar desculpas. Primeiro, era um projeto de trabalho urgente que apareceu de última hora. Depois, um amigo que precisava de ajuda para se mudar. Era como se o universo conspirasse para nos manter separados.

Em nossos raros encontros, tudo parecia perfeito. Ele era charmoso, atencioso e eu não conseguia resistir ao seu sorriso. Mas, logo após esses momentos, ele se afastava novamente. Às vezes, ele sumia por dias, deixando-me com uma sensação de vazio, questionando se aquilo tinha algum significado real.

Eu estava enredado em um ciclo repetitivo de expectativas e decepções. Sabia que deveria seguir em frente, que merecia alguém que estivesse tão presente quanto eu, mas havia algo em Lucas que me impedia de desistir completamente.

Em uma noite especialmente difícil, quando eu estava prestes a “virar a página do meu folhetim”, ele me ligou. Ele parecia genuinamente preocupado comigo, e sua voz suave fez meu coração amolecer. Admitiu que estava com medo de se entregar completamente, com medo de se machucar. E pela primeira vez, eu soube que ele não estava me enganando, ele estava se enganando.

Esse dilema não era estranho para a comunidade LGBTQIA+ em que estamos inseridos. Eu me via frequentemente discutindo com amigos sobre as complexidades de construir relacionamentos dentro da cultura gay. Ainda vivemos a prevalência de relacionamentos superficiais, impulsionados por aplicativos, que, muitas vezes, enfatizavam o aspecto físico e superficial.

Em um ambiente repleto de pressões externas e problemas de autoaceitação, as barreiras para estabelecer conexões significativas eram altas. Muitos de nós lutam com a busca incessante por aceitação e validação, às vezes confundindo atenção superficial com algo genuíno.

Para mim, essa experiência com Lucas não era apenas sobre nós dois, mas também sobre a jornada que muitos na comunidade LGBTQIA+ enfrentam.

No fim, Lucas e eu concordamos em avançar um passo de cada vez, sem criar expectativas irreais. Sabíamos que éramos pessoas reais, com medos e cicatrizes, e não personagens de um conto de fadas. Talvez ele não tenha estado tão envolvido no começo, ou talvez tenha sido o medo que o manteve distante. E, até hoje, a dúvida persiste: ele está ou não está a fim de mim? Ou será que é hora de eu dar um ponto final? O enredo continua se desenrolando, sem um desfecho definitivo à vista.

E você, caro leitor, já se encontrou nessa encruzilhada, tentando entender os complexos caminhos do afeto em meio a uma cultura cheia de desafios e expectativas?

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