As diversas faces de uma professora

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Por Silvia Maria Vieira dos Santos, colunista Mídia Queer

Este mês dedicam-se festas as professoras e aos professores. Na maioria das escolas é um momento muito esperado por nós porque é o período que “reconhecem” nosso trabalho.

Quando me tornei professora todos diziam que eu não iria ganhar dinheiro, que era muito cansativo, exploração, entre outras mazelas.  Não me contaram que dando aula eu me realizaria como profissional ao ver o crescimento e a capacidade de transformação de minhas educandas e educandos. Também omitiram os encontros que eu teria e que tenho até hoje com pessoas diversas e que me ensinam a ser o que sou.

Mas nem tudo são flores! Dessa experiência gostaria de destacar alguns pontos. O primeiro é a desvalorização da profissão.  Não é de hoje que somos tratadas como as inimigas da educação. Com o processo de universalização da educação pública no Brasil, aumentou o número de escolas e o público de discentes, contudo a demanda de formação  de professoras não seguiu essa realidade, muito menos uma qualificação continuada.

Trabalhamos muitas vezes entre oito e doze horas por dia (quem tem 300 h/mês) para sobreviver porque apesar da municipalização e a crescente demanda, nossos salários não acompanharam, pelo contrário.  Entre várias profissões a nossa é uma das mais desvalorizadas monetariamente e o Brasil bate recorde nesse descaso. Isso leva a uma precarização do trabalho, acúmulo excessivo, pouco tempo de estudo ou planejamento, desmotivação. Soma-se a isso a falta de infraestrutura, o excesso de alunos por sala de aula, a falta de segurança nas escolas e a má remuneração que contribuem para desvalorizar a carreira e desestimular as profissionais, causando uma série de doenças.

Adoecimento é a palavra de ordem das profissionais de educação. Segundo um estudo feito e apresentado pela Revista Nova Escola em 2018, 66% das(os) professoras(es) já precisaram se afastar por problemas de saúde. E os problemas mais frequentes são: ansiedade, que afeta 68% das(os) educadoras(es); estresse e dores de cabeça (63%); insônia (39%); dores nos membros (38%) e alergias (38%). Além disso, 28% delas(es) afirmaram que sofrem ou já sofreram de depressão. E nem contamos com as doenças vocais.

Em todos os estudos as mulheres são as que mais sofrem com os problemas de saúde, porque, além de todas as questões que abordadas as mulheres, elas têm uma terceira jornada em casa, pois vivemos numa sociedade onde nós, por possuirmos útero, somos vistas como cuidadoras naturais e essa construção deslegitima a ação doméstica dos homens, relativizando e até retirando a responsabilidade dos mesmos quanto aos trabalhos domésticos e ao cuidado com crianças e idosos.

A desigualdade de gênero como elemento estrutural da sociedade determina desvantagens para as mulheres em todos os setores da vida social.  De acordo com o  Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará – IPECE, entre 2012 e 2018, a jornada média mensal das mulheres no trabalho principal e nos afazeres domésticos foi  superior aos dos homens (51,9% horas).

A pandemia da COVID- 19 intensificou essa disparidade e o adoecimentos destas profissionais. De um dia para o outro nos exigiram uma expertise em informática e uso das redes sociais e das plataformas digitais. Além da necessidade de criação de estratégias pedagógicas para a o estímulo das(os) estudantes, estarem disponíveis para esclarecer dúvidas de estudantes e sua família, de questões técnicas, políticas, sociais, como a alimentação, saúde e conectividade para as(os) discentes em situação de vulnerabilidade social. Sem nenhuma orientação concreta tivemos que criar estratégias de aulas remotas, utilizando nossos recursos e nossos equipamentos pessoais. Adeus dados móveis!! Tchau memória do celular!!! Tem que se reinventar, é o que nos dizem, mas eu já sou uma professora reinventada pois dou aula remota com a Kelly latindo e o Artur gritando, quer mais malabarismo?

Permanecemos sobrecarregadas com nossa atividade laboral e doméstica. Quem cuida de nossa saúde mental e física? Não estamos de férias!!! Continuamos trabalhando, só que dupla ou triplamente. Queremos como reconhecimento de nossa profissão melhores salários, condições de trabalho e principalmente equidade de gênero dentro e fora da sala de aula.

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