
Por Márcio Silvestre
A relação de Pedro Edson, 29, com Adriano Sousa, 33, teve início em 2011, quando se conheceram através de um chat numa rede social. Os papos foram se tornando mais frequentes e a vontade de se encontrarem pessoalmente foi aumentando. Os mais de 500 km de distância entre Crato e Fortaleza e o preconceito sofrido no âmbito familiar e social foram barreiras ultrapassadas com muito diálogo e companheirismo. E, em 2020, o casal comemora oito anos de relacionamento. Mesmo com as dificuldades colocadas pela pandemia de Covid-19, eles podem afirmar: do início do sonho, até agora, deu tudo certo! Acompanhe essa bela história, que se ressignifica em tempos de isolamento social.
Amor ao primeiro clique
No início dos anos 2000, o Windows Live Messenger, popularmente conhecido como MSN, era uma das redes sociais mais utilizadas no mundo. O software dava acesso a um bate-papo personalizado, que unia chat de texto com algumas funções que atualmente são comuns, mas na época eram inovadoras, como colocar frases como status, tremer a janela para chamar atenção, utilizar emojis e até disponibilizar jogos dentro do próprio programa. Através dessa ferramenta, o cratense e promotor de vendas, Pedro, conheceu o ilustrador e designer de Fortaleza, Adriano.
“Fomos ficando cada vez mais próximos, virtualmente. Foram muitas conversas, ligações e até vídeo-chamadas. Conversávamos sobre tudo, dividíamos alegrias, dores e as conquistas do dia-a-dia. Até que chegou a oportunidade de nos conhecermos pessoalmente”, comenta Pedro. A oportunidade veio através de um convite de sua irmã, que estava indo à Fortaleza fazer um treinamento da empresa em que trabalhava.
“Foi tudo muito rápido, minha irmã ia viajar naquela noite. Então liguei para Adriano já na rodoviária, pronto para comprar as passagens. Minha irmã ficou em um hotel e eu fiquei hospedado no apartamento que Adriano morava com um amigo. Passamos uma semana juntos. No dia de voltar para minha cidade bateu aquela tristeza… tinham sido dias maravilhosos. Veio a sensação de que dificilmente nos veríamos de novo. Assim que o ônibus saiu, eu chorei bastante. Era como se uma parte de mim tivesse ficado com ele”.
“Eu chorando pela estrada, mas o que que eu posso fazer… eu gosto mesmo é d’ocê”
Os versos de Geraldo Azevedo ilustram bem os desafios vividos pelo casal. A distância foi a primeira barreira que enfrentaram. Para amenizar a saudade, os jovens criaram um cronograma de viagens que possibilitou os primeiros encontros, mesmo que rápidos, mas necessários para o amadurecimento da relação. Pegar a estrada, pelo menos uma vez por mês, fez parte da rotina de Pedro e Adriano durante um ano.
“Depois de tantos encontros eu sentia que o amor, carinho e respeito estavam se tornando mais fortes. E era reciproco esse turbilhão de sentimentos. Em uma dessas vindas para o Cariri, resolvi pedir Adriano em namoro. A resposta foi sim! Tínhamos o juramento de nos vermos pelo menos uma vez por mês, nem que fosse só por um fim de semana. Nosso amor foi crescendo e percebemos que uma vez por mês era pouco… então Adriano largou tudo em Fortaleza e mudou-se para o Crato”, disse Pedro, que passou a ter o amado na sua cidade em 2012.
Expulsão de casa
A homofobia praticada dentro do lar é uma realidade para muitos jovens LGBTIs, que, além de agressões físicas e psicológicas, estão sujeitos à expulsão de casa após a revelação da orientação sexual. O Instituto de Pesquisa Data Popular, com base no depoimento de 1.264 pessoas, registra que 45% dos pais e 35% das mães não aceitam a homossexualidade.
No começo, a mãe de Pedro achava que a relação dos dois estava apenas no campo da amizade. “Minha mãe gostava dele, até o dia que falei para ela sobre nosso relacionamento. Embora ela, como mãe, certamente desconfiasse da minha orientação sexual, sua reação não foi das melhores e me colou para fora de casa. Disse inclusive que eu era motivo de vergonha para ela”, relembra Pedro.
No mesmo dia o jovem juntou seus pertences e foi morar com o namorado. A decisão de sua mãe marcou o início de uma nova fase para o casal, que alugou um pequeno apartamento para iniciar a vida a dois. “Ainda dói um pouco lembrar disso. Por um lado, eu entendo a atitude dela. Já perdoei esse episódio e atualmente nos damos muito bem, nós três. Ela trata Adriano como um filho e sabe que ele é uma pessoa maravilhosa, responsável e que me ama de verdade. Ficamos tão de boa, que teve um tempo, em que saímos do aluguel e fomos morar com minha mãe, a convite dela”.
Depois de muita batalha os jovens conseguiram realizar o sonho da casa própria e do primeiro veículo. Hoje, as famílias de ambos estão mais aproximadas e aceitam a união.
Fortalecimento dos laços durante a pandemia

O mundo vive um dos períodos mais delicados da história. A pandemia de Covid-19, que tem afetado diretamente a rotina e o emocional das pessoas. Nesse período de distanciamento social, nem todos tem condição de ficar em casa. “Tentamos desde o início seguir ao máximo as recomendações dos especialistas e das autoridades que realmente se preocupam com o bem-estar da população. Adriano trabalha em home-office, é mais tranquilo. Mas no meu caso, que trabalho com serviço essencial numa empresa de produtos alimentícios, tive que sair de casa todos os dias. Isso sempre nos preocupou e nos causou aflição, pois ficamos muito expostos ao vírus e à contaminação. O que de fato aconteceu”.
Mesmo tentando manter todos os cuidados ao sair de casa para o trabalho, Pedro contraiu a Covid-19 e transmitiu para o parceiro. “Apesar da situação estar sob controle, uma vez que os sintomas foram leves, até certo ponto, sempre existe o medo que haja alguma complicação de saúde e isso é bastante assustador, tanto pra mim, quanto pra ele. Também existe o medo que em um futuro próximo meu afastamento das atividades profissionais ocasione algum tipo de penalidade ou até mesmo demissão. Tem muita gente perdendo emprego, né?”, frisa o promotor de vendas.
Viver o isolamento a dois serviu para aproximar ainda mais o casal. Para eles, o mais importante no momento é cuidar da saúde. “Apesar da relativa distância física, por conta de contaminação, nossa relação certamente ficou mais concreta, mais forte. A gente percebe o cuidado, a preocupação, o amor, tudo isso de uma forma tão mais real, sabe? Não que antes não se percebesse isso, mas o momento agora é mais delicado. Toda demonstração de afeto é mais intensa, acredito que não só em se tratando de casais, mas também nas amizades, com familiares, até os pets entram nessa”, finaliza.