Por Rafael Mesquita
Era um domingo luminoso, dia 25 de junho, quando a Beira Mar de Fortaleza se encheu de cores, brilho e esperança. A 22ª edição da Parada pela Diversidade Sexual tomou conta da cidade, trazendo consigo um tema poderoso e inspirador: “Vraaahh!!! Todes nas lutas por políticas públicas: por quem se foi, por quem está e por quem virá!”.
A organização dessa manifestação grandiosa ficou a cargo do Grupo de Resistência Asa Branca (Grab), que escolheu uma figura emblemática como madrinha da Parada: Luma Andrade, a primeira travesti doutora do Brasil. Ao resgatar a tradição de ter madrinhas na passeata e colocar uma mulher trans neste posto, o Grab reforçou a importância de reconhecer e celebrar os ícones da luta LGBTQIA+.
A programação foi um verdadeiro espetáculo para os sentidos. Música, performance e ativismo político se mesclavam harmoniosamente, dando voz e visibilidade à diversidade. Não menos que 23 artistas, entre DJs e cantores, embalaram o público com suas performances envolventes, enchendo o ar de alegria e energia.
As ruas se encheram de populares, famílias e pessoas vindas de todos os cantos do Ceará. A presença maciça demonstrava a força e a união da comunidade LGBTQIA+, mostrando que a luta pela livre orientação sexual e identidade de gênero não está restrita a um grupo específico, mas sim deve ser abraçada por toda uma sociedade.
Enquanto os trios elétricos ecoavam pelas ruas, trazendo consigo o pulsar da música e o grito por direitos, políticos e parlamentares marcaram presença. Contudo, é inegável que o apoio dessas figuras ainda está longe de ser uma ação unânime entre os políticos cearenses. O crescimento do conservadorismo exige um avanço do ativismo LGBTQIA+ no Ceará, seja na eleição de seus próprios representantes, seja no apoio das lideranças partidárias. Afinal, a efetivação de políticas públicas só ocorrerá com a força popular e o voto dentro das câmaras, das assembleias e no congresso nacional.
No entanto, é preciso abordar também as questões de segurança que permeiam um evento de tal magnitude. Infelizmente, presenciamos episódios de assaltos, agressões e tumultos durante a Parada. Embora esses incidentes não diminuam o brilho e a importância da festa, exigem uma atenção especial dos órgãos de segurança pública. É imperativo que a Parada pela Diversidade Sexual seja tratada como uma mega operação de segurança, capaz de garantir a integridade e a paz de todos os participantes. Essa responsabilidade deve ser compartilhada pelos organizadores e pelas autoridades competentes, pois sabemos que é plenamente possível assegurar um ambiente seguro e acolhedor.
Em meio a todas essas reflexões, é essencial ressaltar que o movimento LGBTQIA+ não possui donos e que o direito à fala durante as ações da militância deve ser totalmente democrático. Ouvir as vozes de sindicatos, associações de pessoas trans e de todas as pessoas que lutam por uma sociedade mais inclusiva é fundamental para fortalecer o ativismo. E, neste aspecto, é relevante ressaltar que Parada é um evento público, financiado por recursos públicos, seja por meio de patrocínios governamentais ou do investimento próprio do Executivo, como ocorre com a estrutura provida pelo Governo do Ceará e pela Prefeitura de Fortaleza.
Ao final, é importante ressaltar que o objetivo último da passeata é a erradicação da LGBTfobia e do LGBTcídio. Há 22 edições, a Parada pela Diversidade Sexual transforma Fortaleza e o Ceará em territórios da liberdade, onde a diversidade é celebrada e o respeito prevalece. A nossa batalha incansável prossegue, clamando pela essencial sinergia de todes, na incessante busca de uma sociedade intrinsecamente igualitária e verdadeiramente justa.